terça-feira, 4 de outubro de 2011

Censurem os censores



 Se você é mulher e está lendo estas linhas levante as mãos para o céu e agradeça a Deus por viver no Brasil. Um país onde não existem preconceitos, machismos, estupros, agressões domésticas físicas e verbais, sendo que, muitas vezes partidas de maridos bêbados e covardes, enfim, estas coisas que costumam acontecer todos os dias em países atrasados como a Suíça.

 Melhor para a Secretaria de Política para as Mulheres, assim sobra tempo para cuidarem de assuntos mais relevantes como os comerciais de TV que tanto “ameaçam” a virtude das famílias brasileiras, por exemplo.

 A bola da vez é um filme publicitário de uma marca famosa de lingerie protagonizado pela modelo Gisele Bündchen, o qual, segundo a visão da secretaria, é ofensivo, promove conceitos “preconceituosos” de beleza, além de denegrir a imagem da mulher.

 Mas o perigo maior não está na carta emitida pela secretaria e endereçada ao CONAR (Conselho Nacional de Auto-Regulamentação Publicitária), na tentativa de tirar esta campanha comercial de veiculação. O agravante do problema está em abrir brechas para decisões baseadas em ideais centristas de uma ou duas pessoas representantes deste ou daquele órgão político.

 Ora! Temos hoje uma presidenta mulher e, mais que isso, uma presidenta mulher que sofreu e lutou contra a estupidez arrogante de um período triste da nossa própria história. Portanto ela, melhor que ninguém, sabe que debater é mais produtivo que apenas “bater” e que quando a imposição - “não faça isso.” - é substituída pela proposta -“vamos discutir isso?” - deixa de ser ditadura e torna-se democracia.

 Afinal, toda censura é burra. E qualquer tentativa de cerceamento da livre manifestação de ideias também é uma ameaça a nossa própria liberdade de expressão.

 Mas se a censura é escrota por si só, pior é a censura hipócrita. Nossas novelas, por exemplo, produtos de exportação, vendem o sexo em capítulos e, pior, vale a pena ver de novo às duas horas da tarde. Nossas meninas já seguraram o “tchan”, já dançaram na boquinha da garrafa, já experimentaram o “créu” na velocidade seis e agora querem nos dizer que um comercial de lingerie ofende e expõem a mulher de forma pejorativa?

 E o que dizer das saladas de frutas servidas em bandejas para os gringos famintos que vez ou outra se fartam por aqui? Mulher melancia, mulher morango, mulher maçã, mulher melão, mulher pêra, onde foi parar o espaço dedicado a mulher “mulher”?

 Nossas crianças aprendem a rebolar antes mesmo de andar e nossas jovens não sabem o Hino Nacional, mas entoam todo o repertório ou, - toda a falta de repertório – de todas as bundas cantantes que existem por ai.

 Que me perdoem os moralistas, mas um país que vende mulatas siliconadas como maravilhas turísticas, onde bunda também serve como currículo e onde o tráfico de corpos (muitas vezes de corpos frágeis de brasileirinhas que, ainda crianças, são obrigadas a se tornarem mulheres), ultrapassa todas as nossas fronteiras geográficas e de cuidados, não pode posar agora de paladino virtuoso da moralidade.

 É como diz a canção: “Moro num país tropical, abençoado por Deus...” Nossas mulheres são sem sombra de dúvidas as mais lindas do mundo e nosso povo transpira sensualidade. Portanto, senhoras e senhores representantes da Secretaria de Política para as Mulheres, procurem o que fazer de verdade. Estou certo que se olharem direito acharão algo realmente importante em que se empenhar e deixem que as nossas mulheres sejam o que elas sabem ser de melhor...


  Bonitas por natureza.

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